06-10-2012

dissonância de miguel torga




A luz da tarde acaricia os frutos

Que o vento da manhâ esculpiu no sumos;
As nuvens, de vagar, procuram rumos
No céu abertocomo um descampado;
E un rio preguiçoso e dividido
No seu leito de areia, revolvido,
Lá consegue seguir articulado.

Lago final das coisas e dos seres,
Armonia de tudo onde me afogo!
Ontem agora e logo,
Incapaz de qualquer serenidade!
A vida é um medo que nâo sei vencer.
Vivo nela uma espécie de saudade
De viver...

miguel torga

poeta e narrador de tras-os-montes
versos de penas do purgatório